terça-feira, 18 de junho de 2013

7 manifestações que tomaram as ruas do Brasil

Jessica Soares 17 de junho de 2013
O Brasil está nas ruas. Nas últimas semanas, em diversos cantos do país, manifestações que tiveram início como uma reivindicação de melhores condições de mobilidade urbana se tornaram também um grito pela liberdade e por um Brasil melhor. Nesta segunda-feira, novas ações articuladas na internet aconteceram em pelo menos 10 cidades do país. Pode parecer uma surpresa para quem se acostumou a considerar esta a era do “ativismo de sofá”, mas ao longo da história, os brasileiros já saíram muitas vezes às ruas para protestar, reivindicar e se fazer ouvir. Relembre outras 7 manifestações que tomaram as ruas do Brasil:

1. Revolta do Vintém
Ano: 1878 e 1879
O problema nunca foi apenas os 20 centavos. O famoso vintém, denominação para a antiga moeda de 20 réis, também já gerou protestos no Brasil. Uma delas ocorreu entre 28 de dezembro de 1879 e 4 de janeiro de 1880, no Rio de Janeiro. O motivo? A cobrança de 20 réis nas passagens dos bondes. A revolta provocou conflitos entre a população e as forças armadas, o que terminou com números trágicos de mortos e feridos. No final, a pressão popular venceu e as autoridades e companhias de bonde anularam o reajuste.

2. Revolta da Vacina
Ano: 1904
No início do século 20, o Rio de Janeiro ainda não era a Cidade Maravilhosa. As condições sanitárias e intensas epidemias impediam a chegada de investimentos, maquinaria e mão-de-obra estrangeira. Para tentar conter a situação, o então presidente da República Rodrigues Alves nomeia Oswaldo Cruz como chefe da Diretoria de Saúde Pública. “Dêem-me liberdade de ação e eu exterminarei a febre amarela dentro de três anos”, teria dito o sanitarista. O prometido foi cumprido, mas não sem antes desencadear uma revolta na população. A arbitrariedade das ações, com invasões de lares, interdições forçadas e despejos, levou às ruas mais de 3 mil pessoas. O saldo final da revolta que tomou a cidade entre os dias 10 e 18 de novembro foi de 30 mortos, 110 feridos, cerca de 1.000 detidos e centenas de deportados.

3. Greve da meia-passagem
Ano: 1979
Três aumentos nas passagens em apenas um ano. Em 1979, os estudantes de São Luís (Maranhão) foram para as ruas pedir o meio passe estudantil. No dia 17 de setembro, mais de 15 mil pessoas se reuniram na Praça Deodoro. Taxados de “marginais” e de “subversivos”, estudantes encontraram forte repressão da polícia. Pelo menos 50 pessoas foram admitidas em hospitais públicos, 300 pessoas foram presas e mais de 1000 detidas. Mas a manifestação colheu frutos: em 1º de outubro a lei da meia passagem foi sancionada.

4. Diretas Já
Ano: 1984
As primeiras manifestações aconteceram em Abreu de Lima, município de Pernambuco, em 1983. Mas foi em 1954 que o povo tomou as ruas para pedir a volta das eleições diretas, abolidas com o Golpe Militar em 1964. O primeiro recorde foiem Belo Horizonte: no dia 24 de fevereiro, mais de 400 mil se reuniram na Avenida Afonso Pena. Depois, foi a vez do Rio de Janeiro: mais de 1 milhão de pessoas se reuniram na Candelária no dia 10 de abril. Em São Paulo, o número de manifestantes ultrapassou a marca de 1,5 milhões no dia 16, no Vale de Anhangabaú.

5. Impeachment de Collor
Ano: 1992
Com tinta amarela e verde no rosto, os cara-pintadas foram às ruas em 1992 pedir o impeachment do então presidente do Brasil Fernando Collor de Melo, envolvido em denúncias de corrupção. Na manhã do dia 25 de agosto, cerca de 400 mil jovens se reuniram no Vale do Anhangabaú, em São Paulo. Em Recife, outros 100 mil se reuniam; em Salvador, tomaram as ruas 80 mil pessoas. No dia 18 de setembro, outros 750 mil se reuniram nas ruas de São Paulo. Collor renunciou de seu cargo em 29 de dezembro de 1992.

6. Marcha dos 100 mil
Ano: 1999
Em 26 de agosto de 1999, cerca de 100 mil pessoas se reuniram na Esplanada dos Ministérios para protestar contra o governo de Fernando Henrique Cardoso. Com apoio de sindicatos e partidos de oposição, os manifestantes de Brasília e outros estados brasileiros pediam a abertura de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs) para investigação da corrupção do governo federal.

7. Revolta da Catraca
Anos: 2004 e 2005
Em 22 de junho de 2004, o Conselho Municipal de Transportes de Florianópolis aprovou o aumento em 15,6% da tarifa do precário transporte público da cidade. Foi a gota d’água de uma insatisfação que começara ainda em 1996, quando a prefeitura apresentou o projeto de implementação do Sistema Integrado de Transportes (SIT). O serviço foi oferecido à iniciativa privada, com financiamento superior a 8 milhões. Concluído em 2003, foi alvo de críticas: percursos ficaram mais demorados, baldeações desnecessárias foram implementadas. Entre os dias 28 de junho e 8 de julho, o povo foi às ruas em manifestações marcadas pelo fechamento de pontes que ligam a ilha à parte continental da cidade, impedindo o trânsito na principal via de acesso aos bairros e municípios da grande Florianópolis. Em 2005, um novo aumento desencadeou novas manifestações, mais duramente repreendidas pela polícia.

terça-feira, 4 de junho de 2013

A ORIGEM O HOMEM DE FERRO E A GUERRA FRIA

A origem do Homem de Ferro e a Guerra Fria

Em 2013 comemoram-se os 50 anos do Homem de Ferro, famoso personagem de histórias em quadrinhos da editora norte-americana Marvel Comics. Não é por acaso, portanto, que no final de abril tivemos a estréia da terceira parte das suas aventuras no cinema.
No embalo deste momento de grande interesse do público pelo herói de armadura, resolvi postar trechos de um artigo sobre sua origem escrito por Waldomiro Vergueiro, pesquisador e professor da USP especializado em quadrinhos. Publicado originalmente em 2008 para os 45 anos do Homem de Ferro.
Onde entra a História nisso?
Criado em 1963 por Stan Lee e Jack Kirby (autores de outros ícones das HQs como o Homem-Aranha, os X-Men e os Vingadores), o Homem de Ferro surge em pleno auge da Guerra Fria, e tem suas origens e histórias iniciais totalmente moldadas pela disputa ideológica que dividiu o mundo entre os blocos capitalista (liderado pelos EUA) e socialista (sob a liderança da União Soviética) no período de 1945-1991. Podemos dizer então que o herói serviu como instrumento de propaganda dos EUA no período, combatendo vilões que muitas vezes eram originados na URSS.
Siga então abaixo trechos do artigo do prof. Waldomiro Vergueiro sobre a origem do Homem de Ferro!
A criação do Homem de Ferro nas histórias em quadrinhos
Super-herói era reflexo dos conflitos da política mundial
por Waldomiro Vergueiro
O ano era 1963. O período era bastante conturbado. Praticamente recém-saído da crise dos mísseis de Cuba, o governo norte-americano, então sob a presidência de John F. Kennedy, havia decretado, em fevereiro, a ilegalidade de qualquer viagem, negócio ou transação comercial de cidadãos americanos com a ilha de Fidel Castro. Acirrava-se, assim, a Guerra Fria, que dividia o mundo entre duas proposições ideológicas distintas - o capitalismo, de um lado, e o socialismo, de outro - e levaria a vários golpes de estado no continente latino-americano, a intervenções em conflitos armados em várias partes do mundo, a uma corrida armamentista que parecia não ter fim. A Guerra Fria duraria até o início da década de 1990, com a extinção da União Soviética.
(...)
A gênese do Homem de Ferro está situada em um ambiente de confronto característico da Guerra Fria: o Vietnã. Na época, os Estados Unidos alimentavam os conflitos neste país com homens e armamentos, mas não se encontravam ainda abertamente envolvidos. É no fornecimento de armamentos que atua o bilionário Tony Stark, industrial que, ao inspecionar o uso de uma arma projetada por sua fábrica, é vítima de um acidente que aloja estilhaços de bomba em seu coração, gerando uma situação de constante ameaça.
Encontrado pelos vietnamitas, Stark é aprisionado e forçado a desenvolver uma arma para eles, contando para isso com a ajuda de um velho cientista. Enganando seus carcereiros, Stark desenvolve uma armadura de ferro à base de transistores, que lhe possibilita manter seu coração batendo normalmente e representa uma arma inigualável. Derrotado o inimigo, ele retorna ao seu país e inicia sua carreira como super-herói. (Nota: Parecido com a origem apresentada no cinema, porém em outra parte do mundo e em diferente contexto histórico)
Desde seu início, o Homem de Ferro foi uma personagem marcada pela contradição. Tratava-se de um bilionário e fabricante de armas, alguém não apenas indiretamente responsável pela morte de milhões de pessoas mas que também se beneficia pessoalmente disso. Constituía, assim, alguém que dificilmente poderia ser considerado um herói pela maioria dos leitores.
(...)
Infelizmente, o aspecto político foi o elemento mais forte nas primeiras aventuras do Homem de Ferro. Invariavelmente, seus maiores adversários vincularam-se à divisão entre capitalismo e socialismo. Assim, vilões como o Mandarim, o Dínamo Escarlate, Bárbaro Vermelho, Homem de Titânio e outros são carregados de teor ideológico, deixando evidentes as tendências políticas do protagonista. Não faltam, inclusive, veladas referências à realidade dos países sob a égide da doutrina socialista, cujos mandatários são freqüentemente tratados por denominações como terroristas ou tiranos.
Esse maniqueísmo do herói só seria suavizado no final dos anos sessenta, quando crescia entre o povo estadunidense a rejeição à participação do país na Guerra do Vietnã. Nesse período, Tony Stark tornou-se pacifista e negou-se a continuar inventando armamentos, entrando em uma nova fase de sua vida."


 

terça-feira, 16 de abril de 2013

QUE CARACTERÍSTICAS A GUERRA FRIA ASSUMIU NOS ANOS 60 E 70?



Na década de 60, o líder soviético Nikita Kruschev define as bases de uma nova etapa da bipolarização, a da coexistência pacífica. A luta entre os sistemas capitalista e socialista deve ser travada, prioritariamente, no campo econômico, e não no bélico. O mundo inteiro acaba implicado no conflito entre as duas superpotências. A divisão em dois blocos se intensifica até que a crise dos mísseis de Cuba quase provoca uma verdadeira guerra nuclear em 1962 – episódio que poderia ter acabado com a vida no planeta. Nos anos 70, Leonid Brejnev, presidente da União Soviética, procura diminuir a tensão entre as duas superpotências, assinando alguns acordos com os Estados Unidos. Começa a Détente ou Distensão, mas as alianças internas nos dois blocos continuam até a queda dos regimes comunistas europeus.
 
 A coexistência pacífica


Buscando evitar a todo o custo o confronto direto entre as duas grandes potências, a estratégia da coexistência pacífica (formalizada pelo líder soviético Nikita Kruschev) desloca a Guerra Fria para os campos da economia e da tecnologia. As novas relações possibilitam algumas aproximações entre os tradicionais rivais, mas não garantem o fim das hostilidades e tensões. No início dos anos 60, duas graves crises confirmam que, apesar do fim da fase mais aguda, a Guerra Fria continua presente: as crises do muro de Berlim, em 1961, e dos mísseis de Cuba, em 1962.
 
A crise em Berlim
No final da Segunda Guerra, o Acordo de Potsdam (1945) divide a derrotada Alemanha nazista e sua capital em quatro zonas de ocupação entre os Aliados (União Soviética, Estados Unidos, Grã-Bretanha e França). Em 1948, para impedir medidas do bloco ocidental que resultariam na formação de um Estado alemão separado, a União Soviética impõe um bloqueio em Berlim, cidade encravada em sua zona. Os acessos rodoviários e ferroviários para a cidade são fechados, exigindo que britânicos e norte-americanos montem uma ponte aérea para abastecer Berlim Ocidental. Depois desse incidente, surgem as Repúblicas Federal da Alemanha (Ocidental) e Democrática Alemã (Oriental), respectivamente alinhadas com o bloco capitalista e o socialista.

A construção do muro de Berlim

O interesse em impedir fugas para o lado capitalista de Berlim leva a União Soviética a erguer na noite de 12 para 13 de agosto de 1961 uma cerca de arame farpado e postos de vigia. Mais tarde, a cerca é substituída por um muro de alvenaria. Mais do que dividir uma cidade, o 'muro da vergonha' separa fisicamente famílias, ideologias e o mundo, colocando cada parte sob influência de uma das superpotências. A queda do muro de Berlim, em 1989, representa o fim da Guerra Fria.
 
Corrida espacial


As pesquisas em ciência espacial se transformam numa área de rivalidade entre os Estados Unidos e a União Soviética. A corrida espacial acarreta o aumento do prestígio e grandes avanços científicos, tecnológicos e militares. A exploração espacial começa em 4 de outubro de 1957, quando é lançado o primeiro satélite em órbita da Terra pela União Soviética, o Sputnik 1. O feito russo abala o bloco capitalista, especialmente os Estados Unidos, que acreditam em sua superioridade no campo científico. A competição aumenta quando, um mês depois do Sputnik 1, os soviéticos lançam um satélite maior, o Sputnik 2, levando a bordo a cadelinha Laika. Somente em 31 de janeiro de 1958 os Estados Unidos conseguem colocar em órbita seu primeiro satélite, o Explorer.

Em 20 de julho de 1969, o homem pisa pela primeira vez na Lua.
A chegada à Lua
Na busca de desvendar a Lua, novamente os soviéticos saem na frente, por meio do programa Luna, quando o Luna 1 vence a gravidade da Terra e envia fotos do lado escuro do satélite. Os norte-americanos só conseguem igualar o feito dois meses depois, com o Pioneer 4. Em 1961, os soviéticos obtêm um notável triunfo ao lançarem ao espaço o primeiro satélite tripulado, e Yuri Gagárin torna-se o primeiro astronauta da história. Mas, em 20 de julho de 1969, os norte-americanos conseguem tomar a dianteira na corrida espacial, com a chegada dos primeiros astronautas à Lua: Neil Armstrong, comandante da Apolo 11, torna-se o primeiro homem a pisar no satélite.
 
 
A Guerra do Vietnã (1960-1975)


No Sudeste Asiático, a longa luta pela libertação do domínio francês tem na Guerra da Indochina (1946-1954) seu principal alicerce – a descolonização asiática continua avançando. A Conferência de Genebra estabelece as regras do pós-guerra: reconhecimento da independência do Vietnã, do Camboja e do Laos, ficando o Vietnã dividido pelo paralelo 17 em Vietnã do Norte e Vietnã do Sul, com sua reunificação determinada para 1956, após eleições gerais.
Diferenças entre os Vietnãs do Norte e do Sul
O governo de Ho Chi Minh, no Vietnã do Norte, busca preparar o país para a reunificação. Suas principais realizações são a reforma agrária radical, uma economia planificada e uma segura política educacional para acabar com o analfabetismo. Enquanto isso, no sul, o governo de Ngo Dinh Diem, em 1955, cancela as eleições e instaura uma ditadura militar oposta à reunificação do país. O terror é instalado no sul, que conta com o apoio militar dos Estados Unidos: contínuas perseguições às seitas budistas e às minorias étnicas, tribunais militares de exceção, campos de trabalho forçado são criados para reprimir os opositores, principalmente contra o 'perigo comunista'.
O início da guerra
Em 1960, o governo do Vietnã do Sul tem de enfrentar a rebelião de uma guerrilha comunista (ou Vietcongue), braço armado da Frente de Libertação Nacional, apoiada pelo Vietnã do Norte. Os Estados Unidos decidem intervir no conflito: chegam a enviar meio milhão de soldados para combater o Vietcongue e bombardeiam maciçamente o Vietnã do Norte, atacando inclusive a população civil. Suas armas químicas desmatam florestas, poluem os rios e tornam o solo improdutivo.
Conflito generalizado

Durante a Guerra do Vietnã, soldados americanos são transportados de helicóptero.
Em 1968, guerrilheiros vietcongues e tropas norte-vietnamitas desfecham contra o Vietnã do Sul a Ofensiva do Tet, alcançando Saigon e muitas capitais provinciais. As contínuas vitórias vietcongues causam grande abalo e muitas baixas para os Estados Unidos, forçando a Casa Branca a perceber que o impasse só pode ser resolvido pela via diplomática. O conflito se generaliza em 1970, com a invasão do Camboja e a intervenção no Laos por tropas norte-americanas. O desgaste material e humano, o interesse norte-americano em concretizar a aproximação política com a China comunista (para neutralizar a influência soviética sobre a Ásia em geral), a pressão dos movimentos pacifistas nos Estados Unidos e os escândalos políticos relacionados à administração Nixon levam à saída gradual das tropas americanas do Vietnã, formalizadas no Acordo de Paris, em 27 de janeiro de 1973.

O fim da guerra
O fim da guerra ocorre em 1975, com a conquista de Saigon pelas tropas vietcongues. A reunificação vietnamita torna-se realidade e o país passa a ser denominado República Socialista do Vietnã, com a capital em Hanói. Saigon é rebatizada em homenagem ao maior líder comunista vietnamita, Ho Chi Mihn.
 
A crise dos mísseis


Em 1961, a tentativa frustrada de invasão a Cuba, organizada pelos Estados Unidos, com a participação de cubanos treinados pela CIA em Miami, fortalece a aproximação entre Cuba e União Soviética, levando Fidel a aderir ao marxismo. Em plena Guerra Fria, a Revolução Cubana causa forte impacto em todo o continente americano, mas Cuba tem de administrar as consequências de sua adesão ao bloco socialista: bloqueio econômico e naval determinado pelos Estados Unidos e sua expulsão da Organização dos Estados Americanos (OEA). Em 1962, Fidel Castro decide estreitar os laços com a União Soviética. Os soviéticos instalam mísseis nucleares em Cuba. Sabendo disso, os Estados Unidos preparam uma invasão à ilha. A União Soviética, por sua vez, apóia seu aliado caribenho. Durante alguns dias, teme-se a possibilidade de ataques nucleares entre as duas grandes potências. No fim, a União Soviética retira seus mísseis e os Estados Unidos se resignam a aceitar o fim do monopólio ideológico no continente americano.
 
 1968, o 'ano que não terminou'


Sinônimo de rebeldia e contestação, o ano de 1968 destaca-se numa década de transformações e contestações dos dois lados do Atlântico, inclusive no Brasil. Aqui, acontecem passeatas e manifestações contra o governo militar e greves operárias, culminando com a imposição do AI-5 (Ato Inconstitucional nº 5) pelo presidente Costa e Silva, medida que acaba por reforçar o autoritarismo. Na França, estudantes universitários protestam contra as reformas educacionais, reivindicando também maior liberdade e criticando o conservadorismo. As manifestações de 'Maio de 68', particularizadas por unir estudantes e trabalhadores numa greve geral, passam a ser reprimidas pelo governo. Acordos trabalhistas, a chegada das férias e a violência dos confrontos esvaziam o movimento. Em junho, eleições gerais reafirmam a força do presidente, o general Charles De Gaulle.
A Primavera de Praga
Na então Tchecoslováquia, desde o início do ano de 1968 reformas pretendiam modernizar a economia e transformar o papel do Estado. Com o apoio de intelectuais, operários e estudantes, o presidente Dubcek busca uma via própria e mais humanizada de socialismo. Esse reformismo encontra seu maior opositor na União Soviética, liderada por Leonid Brejnev. A fim de manter sua hegemonia no Leste Europeu, tropas do Pacto de Varsóvia invadem a Tchecoslováquia. Dubcek e companheiros são presos, enviados a Moscou e expulsos do Partido. A 'Primavera de Praga' termina sob repressão, da mesma maneira como ocorrera na Hungria, em 1956.
O movimento negro nos Estados Unidos
Nos Estados Unidos, agrava-se a questão racial. O movimento negro se divide numa ala pacifista – sob o comando de Martin Luther King, que defende a 'desobediência civil' e a não-violência – e em outra ala radical, partidária da violência e do confronto com os brancos, os Panteras Negras. Intensifica-se também o ambiente de protestos contra a participação norte-americana na Guerra do Vietnã e contra a própria Guerra Fria. Choques entre brancos e negros e os assassinatos, em 1968, de Martin Luther King e do candidato à presidência Robert Kennedy sinalizam tensões na sociedade americana, substituindo o apoio incondicional nacional dos anos 50.
 
O agitado ano de 1979
Já no final da década de 70, um ano ficaria marcado pela quantidade de acontecimentos que marcariam a história: 1979. Os destaques ficam para a derrubada do ditador Somoza, na Nicarágua, a assinatura do Acordo de Camp David, entre Egito e Israel, a Revolução Iraniana, que colocou no poder o aiatolá Khomeini, e o início da guerra do Afeganistão.
Nicarágua
Na Nicarágua, a derrubada do ditador Somoza pela guerrilha da Frente Sandinista marcou o início de um novo regime apoiado por Cuba e pela União Soviética, gerando uma violenta reação capitalista, financiada pelos Estados Unidos.

Détente ou Distensão

Durante a década de 70, a Guerra Fria apresentou uma nova relação entre as duas superpotências, encaminhada pelos seus líderes (Brejnev na União Soviética e Nixon nos Estados Unidos). Conhecida por Détente ou Distensão, essa relação se desenvolveu no contexto da crise do petróleo e foi marcada pela assinatura dos primeiros acordos sobre a corrida armamentista.
A diplomacia triangular
As relações sino-soviéticas começaram a estremecer a partir de 1960, em consequência da autonomia do programa nuclear chinês. A emergência de uma política externa autônoma chinesa possibilitou uma nova dinâmica na Guerra Fria, que substituiu a tradicional rigidez por relações mais fluidas, típicas do período da Détente. O processo de aproximação entre Estados Unidos e China, importante marco do período, e a retirada das tropas norte-americanas da Guerra do Vietnã, criaram as condições para a diplomacia triangular, forçando a União Soviética a encarar a China como nova e potencial inimiga.
Fim da corrida armamentista
Os primeiros sinais de que as superpotências pretendiam diminuir a escalada armamentista foi a assinatura do Salt-1, em maio de 1972. O acordo limitou o número de mísseis antibalísticos que cada país poderia produzir e congelou por cinco anos a construção de plataformas fixas ou submarinas de mísseis balísticos intercontinentais. A ratificação do Salt-1 aconteceu em 1979, com a assinatura do Salt-2, apesar da delicada situação entre as duas superpotências, devido à invasão soviética do Afeganistão e às Revoluções na Nicarágua e no Irã, que praticamente congelaram a Détente.
 
 
CAXEMIRA: DE PARAÍSO A INFERNO

A Caxemira já foi considerada o "Paraíso na Terra". Hoje, depois de mais de meio século de disputas pela posse do território, mais parece o inferno. Nos últimos tempos, esse pedaço do subcontinente indiano voltou a chamar as atenções do mundo: Índia e Paquistão — dois países com poder de fogo nuclear — elegem o desejo de controlar o território como motivo para discórdias e ataques intermináveis.


A briga entre Índia e Paquistão pela posse da Caxemira começou com o final do controle britânico na região.


Região estratégica


A Caxemira é uma região montanhosa, já no início da cordilheira do Himalaia.
Quando chegou à Caxemira, Jerangir, imperador mongol do século XVII, disse: "Se existir um paraíso na Terra, ele fica na Caxemira". Uma região de montanhas cobertas de neve, vales cortados por inúmeros rios, terras férteis e riquezas minerais ainda não totalmente exploradas. Não é à toa que tenha dado origem a uma briga que já dura mais de 50 anos. Mas além de toda essa abundância, um outro interesse está em jogo: a área é estratégica, pois faz divisa entre Índia, Paquistão, China e Afeganistão. Para o Paquistão, a anexação da Caxemira a seus territórios representaria uma fronteira direta com a China, sua aliada de longos anos. Já para a Índia, a manutenção do controle da Caxemira impede o fortalecimento de dois tradicionais inimigos em suas fronteiras. É claro que as razões estratégicas não são explicitadas pelos governos em questão. Oficialmente, o motivo central do conflito é uma disputa pelo território. E o combustível é o conceito religioso.

Divisão do Império Britânico

Em 1947, após o movimento de resistência pacífica liderado por Mahatma Gandhi, a Índia finalmente obteve sua independência da Grã-Bretanha. O antigo território controlado pelos ingleses foi dividido entre Índia e Paquistão — que eram, até então, um único país: os territórios de maioria muçulmana ficaram com o Paquistão e os de maioria hindu, com a Índia. Mas houve uma exceção: a Caxemira, governada na época pelo marajá Hari Singh. O marajá pediu apoio ao governo hindu contra grupos paquistaneses que começavam a invadir a região. Em contrapartida, assinou um tratado anexando a Caxemira à Índia. Com isso, deu início a um conflito que originou duas guerras entre Paquistão e Índia: a primeira entre 1947 e 1948 e a segunda em 1965. Em 1999, por alguns dias, a Índia bombardeou grupos apoiados pelo Paquistão que haviam entrado em seus territórios.

A posição dos dois países

Segundo o governo paquistanês, a Caxemira deveria fazer parte do Paquistão porque a maioria de sua população é muçulmana e sofre perseguições dos hindus. A Índia se recusa a discutir o assunto tanto com o país vizinho quanto com a ONU e afirma que tem direito sobre a área, garantido por antigos tratados. Existe, porém, uma terceira opção, que ganha cada vez mais adeptos na própria Caxemira, mas que não é aceita nem pela Índia nem pelo Paquistão: o estabelecimento da região como um estado independente.

Linha de controle

Em janeiro de 1949, depois do final da primeira guerra pela posse do território, a ONU estabeleceu uma linha de controle monitorada por suas tropas na fronteira entre os dois países: dois terços da região para a Índia, um terço para o Paquistão. Essa linha, definida pelo Acordo de Simla, atravessa os Himalaias, numa região a 5 mil metros de altura. Ao norte da linha de controle, paquistaneses e hindus estão entrincheirados desde 1984, numa região a 6 mil metros de altitude — o mais alto campo de batalha do planeta, onde as condições extremas e o frio causam mais mortes do que os eventuais tiroteios.

Tensão constante

Apesar da presença de tropas da ONU, a Caxemira continuou sendo um foco de tensão. Grupos paquistaneses frequentemente se infiltram no território hindu, organizando atentados. A Índia, por sua vez, acusa o governo paquistanês de apoiar logística e financeiramente esses grupos considerados terroristas. Após os atentados de 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos, e o início do chamado "combate ao terror", a Índia aproveitou para chamar a atenção mundial para a atuação desses grupos. Em contraponto, o Paquistão nega envolvimento com terroristas e ainda acusa a Índia de promover um "governo de terror", de repressão aos muçulmanos na Caxemira.

nuclear


O que parecia uma briga de vizinhos ganhou contornos ameaçadores quando Índia e Paquistão entraram para o seleto grupo dos países que possuem armas nucleares.

Guerra Fria

As tensões na região da Caxemira têm um ingrediente a mais, que torna o conflito preocupante para todo o planeta: tanto Índia quanto Paquistão possuem armas nucleares. Como é possível dois países tão pobres terem tanto poder de fogo? A resposta a essa pe1rgunta nos leva de volta à época da Guerra Fria. A fim de barrar o avanço do comunismo na Ásia, após a Revolução Chinesa, os Estados Unidos firmaram acordo com o Paquistão. Em contrapartida, a União Soviética se aproximou da Índia. Dessa maneira, os dois países receberam auxílio tecnológico das superpotências para desenvolvimento de energia atômica "com objetivos pacíficos". No final da década de 1950, o Paquistão inaugurou seu primeiro reator nuclear.

Mudança de aliados

Tratado antinuclear
Em 1996, Índia, Líbia e Butão foram os únicos países a votar contra o Tratado de Proibição Total de Provas Nucleares na Assembleia Geral das Nações Unidas.
Após a guerra entre Índia e China, em 1962 — que teve a última como vencedora —, chineses e paquistaneses se tornaram aliados contra o inimigo comum. A partir daí, o Paquistão se afastou dos Estados Unidos e passou a contar com auxílio chinês no desenvolvimento de um programa nuclear para fins militares. Na década de 1990, os norte-americanos suspenderam definitivamente o auxílio financeiro e a venda de armas ao Paquistão. Em resposta, o país afirmou que daria continuidade às pesquisas nucleares com ajuda exclusiva da China.


Primeiros testes

Enquanto isso, a Índia também avançava em suas pesquisas nesse campo. E, em 1998, fez os primeiros testes nucleares em seu território, detonando três bombas no deserto de Rajastán, a poucos quilômetros da fronteira paquistanesa. Poucos meses mais tarde, em resposta à atitude hindu, o Paquistão também realizou seus primeiros testes. Como consequência, o século XX terminou com mais dois "sócios" no restrito "Clube Nuclear". Oficialmente, possuem bombas atômicas Estados Unidos, Rússia, China, França, Grã-Bretanha, Coreia do Norte, Israel, Paquistão e Índia.


FONTE: Klick Educação